Os inimigos do cérebro: quais são e como combatê-los?
Os maus hábitos que adotamos ao longo da vida não influenciam apenas o nosso físico, afetam também a saúde do nosso cérebro. São vários os fatores que se tornam verdadeiros inimigos do cérebro, fazendo com que aumentem o risco de lesões cerebrais, doenças degenerativas, psiquiátricas, entre outras.

Que hábitos devemos alterar?
Em traços gerais, os maus hábitos de sono, alimentação pouco cuidada e à base de açúcar, o tabagismo e o sedentarismo prejudicam a saúde do nosso cérebro, podendo comprometer o seu normal funcionamento a curto e médio prazo.
O stress constante também afeta a concentração, a memória e o rendimento intelectual. Neste caso a atividade física é muito importante pois ajuda a atenuar o stress.
Um estilo saudável é um aliado que nos permite preservar as capacidades cerebrais e, inclusive, prevenir vários tipos de demência. Neste contexto, uma dieta equilibrada e variada, em que os vegetais e a fruta estejam presentes e que seja pobre em sal, gorduras saturadas e açúcar, promove o bom funcionamento do cérebro.
As perturbações de sono são consideradas fatores de risco?
Sim, de facto são conhecidas as consequências neuropsiquiátricas do síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS), por exemplo, como a perturbação da memória, da atenção, da capacidade de resolução de problemas, irritabilidade e depressão. Mas também o aumento do risco cardiovascular, como a hipertensão arterial, AVC, insuficiência cardíaca, enfarte do miocárdio. A SAOS é uma das representantes das perturbações do sono que é subdiagnosticada, e quando diagnosticada e tratada pode de facto mudar a qualidade de vida das pessoas.
Um sono de boa qualidade é de facto muito importante para a saúde do cérebro.
A demência é uma das doenças neurológicas mais devastadoras para o indivíduo e respectivas famílias, e parece estar a aumentar. Existem dados mundiais e concretamente, dados para Portugal?
De facto, durante as próximas décadas é expectável que a prevalência da demência aumente substancialmente, acompanhando a tendência do aumento global da esperança média de vida da população mundial, uma vez que na maioria dos casos ocorre acima dos 65 anos de idade. Existem atualmente cerca de 50 milhões de pessoas com demência em todo o mundo e prevê-se, nalguns estudos, que pouco menos de 150 milhões de pessoas sejam afetadas em 2050.
No ano passado, o departamento de Saúde da OCDE divulgou dados que parecem confirmar Portugal como um dos quatro países com maior prevalência de casos de demência de entre os países da União Europeia.
A demência é uma das doenças neurológicas que mais gera incapacidade para o indivíduo, dependência permanente de terceira pessoa para os cuidados básicos, e contribuindo para uma grande carga de cuidados para as famílias.
Podemos, individualmente, ter alguma atitude que previna o aparecimento de demência?
São conhecidos potenciais fatores de risco modificáveis associados ao risco de demência, ou seja, aqueles em que é possível intervir para o atraso significativo no aparecimento de sintomas. Este importante facto foi salientado num estudo de 2017 da Lancet, cujos dados analisados permitiram concluir que mais de um terço dos casos de pessoas com demência pode ser atribuível a qualquer combinação desses potenciais fatores de risco modificáveis, sendo que a maioria são fatores cardiovasculares conhecidos, como a hipertensão arterial, a obesidade, a diabetes, o sedentarismo e o fumo do tabaco. A demência de etiologia primariamente vascular é um dos exemplos de demência potencialmente prevenível, sendo o tipo mais frequente depois da doença de Alzheimer, portanto com grande representação na população portuguesa. Todos eles são de fácil identificação e diagnóstico, e com potencial de intervenção terapêutica que pode ser farmacológica, mas também não farmacológica, como a prática de exercício físico regular. Individualmente temos a possibilidade de controlar esses fatores de risco, nomeadamente através das avaliações frequentes por profissionais de saúde, como o médico de medicina geral e familiar e de outras especialidades, para identificação e orientação de atitudes terapêuticas consequentes. No caso da demência, o controlo desses potenciais fatores de risco pode ser assumido como um investimento de longo prazo.
Quando devo procurar o médico?
O acompanhamento médico regular é importante para controlar os fatores de risco, detectar doenças precocemente e consecutivamente, permite melhorar o prognóstico.
Tenha em atenção alguns sinais que devem motivar a procura de um especialista:
- Ter dificuldade em manter uma conversa, perdendo a linha de raciocínio ou não se lembrando de palavras
- Esquecimento de parte ou totalidade de um acontecimento
- Perder gradualmente a capacidade de tomar decisões, de se vestir ou tomar banho autonomamente
É seguro recorrer aos hospitais nesta fase?
Esta fase da pandemia que vivemos foi de particular relevância, uma vez que houve um grande período de confinamento que diminuiu a frequência das consultas médicas da população em geral e, consequentemente, poderá ter contribuído para uma insuficiente vigilância médica que diminuiu o controlo dos fatores de risco. Atualmente as unidades de saúde retomaram a atividade programada com todas as normas de segurança, de forma a que as pessoas com doenças crónicas, e não só, possam retomar o acompanhamento médico regular de vigilância e prevenção de doença, e realizar todas as avaliações necessárias, incluindo exames de diagnóstico e outros procedimentos de forma totalmente segura.
Um artigo do médico Luís Abreu, neurologista do Hospital CUF Viseu.
Fonte: lifestyle.sapo.pt
Top 5 dos alimentos para ajudar ao seu bom funcionamento
O cérebro representa cerca de 2% do peso corporal, tendo em média 1,4 Kg. É o órgão que mais oxigénio consume, fazendo com que o nosso sangue esteja bem nutrido e, com isso, oferecer todas as condições ao bom funcionamento do cérebro.

Sabia que o cérebro é composto por 50% a 60% de matéria gorda? Isto dá-nos já uma pista sobre o tipo de alimentos cruciais para o seu bom funcionamento. Precisamos de boa gordura, acompanhada de vitaminas (C, E e K) e minerais (ferro, zinco e magnésio).
O consumo regular e de boa qualidade de ómega-3 é fundamental para a qualidade de funcionamento do nosso cérebro, a par dos anti-oxidantes (que ajudam no processo de erradicação dos radicais livres).
Assim, a bem do seu cérebro, consuma com regularidade:
- Nozes: já olhou bem para uma noz? O que lhe faz lembrar? Um cérebro! Já temos uma boa pista, corroborada pelo excelente aporte de ómega-3 e 6. Paralelamente, as nozes são ricas em vitamina E, que promove a boa memória e ajuda na redução do envelhecimento das células cerebrais, através da redução dos radicais livres.
- Abacate: este fruto é reconhecido pela excelente concentração de gordura monoinsaturada, designadamente ómega-3 e 6 - tão necessária para alimentar o nosso cérebro. Por outro lado, o abacate é uma boa fonte de vitaminas E e K, promovendo o fluxo sanguíneo no cérebro. Isto, permite uma boa oxigenação do mesmo, a par da redução da probabilidade de danos provocados pelos radicais livres.
- Sementes de abóbora: as sementes de abóbora são muito ricas em minerais como o ferro, o magnésio e o zinco. Têm um elevado nível de ómega 3, que promove o bom funcionamento do nosso cérebro. E têm a elevada presença de flavonóides que inibem a ação dos radicais livres no cérebro, reduzindo a probabilidade de danos neste órgão. Além disto, as sementes de abóbora são uma fonte importante de triptofano, que conjugado com o zinco que se converte em melatonina, promove uma boa noite de sono.
- Brócolos: ajudam a melhorar a memória através da vitamina K. E, para além disto, a presença de vitamina C e flavonoides tem uma ação antioxidante na manutenção da saúde cerebral.
- Frutos vermelhos: existe uma grande variedade de frutos vermelhos que deve consumir frequentemente, desde os mirtilos, amoras, morangos, melancia e todo o tipo de bagas. Este tipo de fruta é riquíssimo em anti-oxidantes. Por outro lado, os frutos vermelhos possuem fisetina na sua composição, um flavonoide que promove a boa comunicação entre neurónios, favorecendo a boa memória, o raciocínio e a atenção.
Para além destes alimentos, privilegie o consumo de alimentos ricos em vitamina C, tais como os citrinos (laranja e limão).
E agora, vamos alimentar corretamente o nosso cérebro? Faça uma boa salada com brócolos salteados, frutos vermelhos, nozes e sementes tostadas para acompanhar as refeições neste tempo mais quente.
Fonte: lifestyle.sapo.pt
Cérebro: como funciona e como deve ser cuidado?

As cefaleias (dores de cabeça) são a mais frequente doença cerebral, estimando-se que uma em cada sete pessoas tenham um episódio de enxaqueca em algum momento da sua vida, segundo dados da Federação Mundial de Neurologia.
A importância da chamada de atenção para esta doença relaciona-se também com a grande incapacidade temporária que provoca, o baixo grau de reconhecimento da doença e de pedido de ajuda pelos doentes que muitas vezes suportam as dores de cabeça com resignação, sendo assim diminuta a taxa de diagnóstico e tratamento destes doentes.
Consequentemente, também os recursos médicos e de investigação são escassos comparados com outras doenças cerebrais como por exemplo os recursos que são alocados às doenças neurodegenerativas.
Mas o que é o cérebro?
O cérebro é um conjunto de estruturas nervosas que todos os vertebrados possuem, que se encontra protegido pelos ossos do crâneo e na proximidade dos órgãos dos sentidos como a visão, o paladar, a audição ou o olfato.
Do ponto de vista biológico, é o responsável por praticamente todos os comportamentos humanos, usando um sofisticado sistema de controlo que integra a informação sensorial que recebe, transformando-a em respostas adaptativas que servem o bem-estar e a sobrevivência, comandando músculos e glândulas que produzem hormonas de acordo com as suas ordens.
Do ponto de vista filosófico, ao cérebro são atribuídas funções mentais como por exemplo o pensamento, a inteligência ou o conhecimento.
Como se relaciona a estrutura do cérebro com as suas funções?
O cérebro possui uma estrutura macroscópica (hemisférios cerebrais) e microscópica (células cerebrais) e também, apesar de menos conhecida, uma importante rede arterial que suporta e interage constantemente com as células neuronais e gliais.
O cérebro humano é o órgão com maiores necessidades energéticas e, apesar de representar apenas 2% da massa corporal, é o responsável por 25% do consumo de sangue circulante e dos seus nutrientes. As células cerebrais (neurónios e células gliais) especializaram-se em comunicação e não possuem recursos energéticos para a sua manutenção dependendo completamente do sangue para os obter.
Assim se compreende que qualquer interrupção no fornecimento de sangue ao cérebro provoque de imediato sintomas e se o problema não se resolver muito rapidamente não se poderão evitar lesões para sempre.
É isto que acontece nos AVC (acidentes vasculares cerebrais) isquémicos, grande causa de internamento urgente e morte em Portugal.
O cérebro possui dois hemisférios, direito e esquerdo com funções diferentes, sendo tradicionalmente atribuído ao hemisfério direito atividades como o pensamento simbólico e a criatividade e ao esquerdo outras como o pensamento lógico e a comunicação oral. Do ponto de vista do controlo motor o hemisfério esquerdo controla o lado direito e vice-versa.
O córtex cerebral é a camada mais externa dos hemisférios cerebrais e contém áreas funcionais, isto é, zonas que coordenam diferentes regiões do corpo. Estes "mapas" à superfície do cérebro ajudam-nos a localizar as lesões motoras ou sensitivas pois cada zona corresponde por exemplo à força ou sensibilidade da mão, braço, perna, tronco ou à boca e língua. Assim uma lesão nesses locais afeta a força ou a sensibilidade nessa área corporal.
Uma parte da glândula hipófise e o hipotálamo também fazem parte do cérebro dedicando-se ao controlo da homeostasia, ou seja, à regulação dos nossos órgão internos e secreções, permitindo assim o controlo cerebral da função respiratória, circulatória, níveis de hidratação ou da temperatura corporal.
Qual é a função do cérebro?
A função do cérebro é a de coordenar as informações dos órgão sensoriais, processá-las, e combinando-as com informações que tem na sua memória, escolher a melhor resposta que o nosso organismo pode dar a uma determinada necessidade. Para efetivar uma resposta pode usar o controlo da atividade motora, da homeostase, dos ritmos circadianos, ou ainda a motivação, a memória ou a aprendizagem, alterando as suas respostas em função da experiência prévia modificando assim o seu padrão de resposta com a aprendizagem.
A saúde do cérebro pode promover-se?
O cérebro é como um sistema operativo para o corpo e os dois devem trabalhar em conjunto para nos mantermos saudáveis. A relação cérebro-corpo é uma relação em dois sentidos, sendo que a uma melhor performance cognitiva corresponde a um melhor balanço cérebro-corpo.
Assim o cérebro necessita de ser recarregado e depende de um bom ritmo de sono, de descanso e alimentação para se manter em boa atividade. A memória, a atenção ou a capacidade de decisão são afetadas pela ausência de descanso corporal, maus hábitos alimentares ou privação de sono.
Um artigo da médica Isabel Lestro Henriques, doutorada e especialista em Neurologia.
Fonte: lifestyle.sapo.pt